Marcela Pereira: por quê?

19/10/2013 23:25

Um momento de emoção marcou o segundo dia do Campeonato Brasileiro de Nado Sincronizado, que acontece neste fim de semana no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Hoje, a equipe do Flamengo, formada por Giovana Stephan, Lorena Molinos, Gabriella Figueiredo, Daniella Figueiredo, Aline Vieira, Jessica Noutel, Maria Eduarda Cavalcanti, Camila Cururahy, Giovana Bueno e Maria Eduarda Pereira venceu três das quatro provas da competição: Solo Livre, Equipe Técnica e Rotina Livre Combinada (combo). Durante todo dia e na premiação das competições, as meninas utilizaram uma camisa, homenageando a colega Marcela Pereira, que faleceu em um acidente de carro no dia 29 de Junho último, enquanto se encaminhava para Macaé num carro dirigido por seu namorado, Victor Geagea, e alguns amigos.

Até hoje nunca foram explicadas as verdadeiras razões que levaram Marcela à morte, uma vez que ela foi a única a ter falecido no acidente. Só se sabe o que aconteceu: ela, o namorado e os amigos estavam no carro quando este tentou ultrapassar uma carreta de mármore. Aí, provavelmente do nada, surgiu uma carreta de frutas e bateu no carro e na carreta. O acidente provocou um grande congestionamento. Todos os envolvidos sobreviveram com ferimentos de leve para moderado, com exceção, justamente, de Marcela, que faleceu devido aos ferimentos.

A morte da atleta, de apenas 22 anos, repercutiu em todos os meios de comunicação. Ela, que desde a adolescência defendia o manto sagrado rubro-negro, tendo sido penta-campeã brasileira, também passara na Seleção Brasileira Juvenil e Júnior, e estava fazendo faculdade de jornalismo. Em entrevista ao jornal O Dia, ela agradeceu ao Flamengo por ter sido importante para os seus sonhos: "A vida de um atleta é muito difícil. Não temos um grande apoio em relação ao estudo e, realmente, vivemos em uma grande batalha. Mas fazer parte é indescritível. Muito bom mesmo". Porém, o sonho de, talvez, disputar a Olimpíada do Rio e levar adiante o nado sincronizado acabou naquele sábado, na BR-101.

A mídia não detalhou o que levou Marcela a ser a única vítima fatal daquele acidente. Ou seja, morreu porque morreu, porque "foi assim", porque "o ciclo dela já foi cumprido", esses clichês todos. Mas até hoje, para mim, me soa estranho que a atleta teria sido a única morta. Nisso, até hoje perguntas estão no ar: Marcela estava usando cinto? O motorista do carro de legumes estava sob efeito de arrebites? Alguma mármore da outra carreta atingiu Marcela? Victor, o namorado, teria talvez sido imprudente, acelerado demais ou dormido ao volante?

Perguntas, perguntas, perguntas, que jamais foram respondidas. E me lembraram de um jingle usado num programa eleitoral do extinto PPB, por volta de 1997: "De quem é a culpa, quem é o culpado?". Será que foi feito algum boletim de ocorrências? Será que foi feita alguma investigação das verdadeiras causas? Será que o motorista da carreta foi preso? E Victor, pode dar sua versão?

Ficam as lembranças de uma das mais promissoras atletas - e, por que não dizer, jornalistas - que o Brasil poderia ter tido, a certeza de que não era hora dela partir e a desconfiança de que pode ter sido muito mais do que um acidente. Nós, do FamilAquatica, queremos explicações. Só assim, Marcela Pereira pode descansar em paz.

FLÁVIO BARBOSA